quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Looping.

A cabeça estava imóvel e o seu campo de visão era restrito. Tentava acordar, lentamente, onde ia religando seus músculos e sentidos aos poucos, até que enfim levantou. A cabeça estava imóvel e o seu campo de visão era restrito. Sentiu um peso sobre seu corpo, tentou fazer movimentos por perceber que aquele peso não deveria estar ali, um peso que vem sendo temido de forma crescente. Gritou mas não ouviu o som que saia de sua boca. A cabeça estava imóvel e o seu campo de visão era restrito. Tudo estava parecendo familiar demais, como um déjà vu instantâneo, tentou virar para o outro lado, já que ainda não queria acordar e não conseguiu mexer seu corpo. Estava preso por amarras invisíveis que não permitiam que os movimentos fossem feitos, o que aumentou o desespero. A cabeça estava imóvel e o campo de visão era restrito. Dessa vez tudo já começou buscando acabar. Tentou manter a calma julgando ser o melhor, mas não foi. Tudo o que queria era que aquilo parasse, que aquela cena o deixasse livre, no controle de si próprio. Mas ainda preferiu manter a calma. Queria perceber aquela sensação em todos os seus desdobramentos. Percebeu então que não era a primeira vez que esse evento tinha ocorrido, mas estava cansando de realizá-lo. Sentia seus membros amortecidos, mas tão vivos. Se questionou que independente do caso, ele voltava a acontecer e isso dava dicas de que teriam uma razão, mesmo que não fosse percebida próxima ao abajur, sendo compostas de uma tinta onde brilhava apenas no escuro, mas já não tinham forças o suficiente para serem entendidas, apenas percebidas, e às vezes a percepção foge à lógica, ela apenas é. Tudo caiu então na ação, ela existia, mesmo prometendo que era a sua última vez, seu ato final, mas no fim se resumia a um pôr-do-sol que nunca aconteceu a seus olhos. Percebeu que a tênue linha entre os dois mundos onde esse loop acontecia é que em um poderia voar sem ser percebido, no outro precisava pedir licença.