domingo, 12 de dezembro de 2010

About christmas trees.

Antes eram apenas caixas. Fechadas e com um pouco de pó em cima, sem a manutenção frequente, a única companhia que as restou foi os finos e numerosos grãos de poeira que se assentavam sem pedir licença. Hoje as caixas foram chamadas para vida. O pó foi tirado sem pedir licença, levado junto com o vento a alguma outra caixa que ainda está esperando para despertar. Depositadas no chão da sala, uma ao lado da outra, elas foram abertas. Primeiro foi a maior, exibindo uma árvore encolhida. Foi a primeira a encher seus pulmões de ar puro, sem resíduos de pó. Abriu seus longos ramos, cada ponta esticando ao máximo, querendo atingir todos os limites antes privados, buscando tocar o impossível com suas extremidades. Se encaixou, se ergueu. Uma árvore dupla buscando alcançar as estrelas, que agora pareciam tão próximas. Logo a atenção se voltou a segundo caixa, onde pequenas bolas coloridas dançavam ao redor de pequenos presentes. Como se a simples abertura da tampa, fosse o suficiente para elas acharem forças para pularem fora. O que não foi preciso, já que uma a uma foi posta na árvore, em um lugar estratégico onde cada uma seria observada da melhor maneira, mostrando suas melhores qualidades. Agora a árvore estava mais verde do que nunca. Mais viva do que nunca. Ela tinha não só amigas, mas também companhia para reinar em pé, em meio a pessoas que não fariam mais do que observá-las atentamente, explorando cada detalhe que os seus olhos conseguissem captar. Vermelhas não são permitidas próximas de outras vermelhas. O mesmo se aplica a todas as outras bolas coloridas. Elas enfim ficaram dispostas com equilíbrio, um pouco de cada, em cada área específica. Logo foi a vez da terceira caixa. Esta quase não aguentou esperar para ser aberta. Queria abrir, precisava abrir. Ser aberta só facilitaria as coisas, mas ninguém poderia fazer o trabalho que seu conteúdo foi designado a fazer. Luzes, era isso que a terceira caixa abrigava. Luzes coloridas. Presas em uma cadeia longa e mista. Foram postas ao redor da árvore, por cima das bolas coloridas. Fazendo uma espiral programada. As bolas coloridas não ficaram frustradas com as luzes, elas as agradeceram. As luzes ajudariam a árvore e todos os seus atributos a serem vistos da melhor forma. E enfim veio a energia, e a árvore se acendeu. Piscando lentamente e em um ritmo próprio. Sem fazer barulho, mas demonstrando uma presença incrivelmente forte. Não tinha mais como negar, ela estava ali, ela queria ser observada e questionada, sem dizer uma palavra para que isso acontecesse. Sem responder a uma questão diretamente. Muitas perguntas merecem uma metáfora como resposta, ou apenas o silêncio. Aquela árvore piscava com urgência. Ela passou tempo demais em caixas para brilhar de forma razoável e morna, agora ela queria transmitir o seu brilho, de forma tranquila e agressiva, ela queria brilhar, como se fosse a sua única função, não por esperar os olhares atentos dos observadores, mas para quando o seu brilho se extinguir, ela poder descansar de volta em sua caixa com a sensação de vida percorrendo em seus longos ramos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Jewelry.

Acredito ver a vida de forma duvidosa. Buscando ângulos seguros onde eu possa retirar minhas raízes de dentro de mim mesmo, e fixar no mundo. Em algum lugar, em alguma pessoa, tocar algo que de sentido e mostre seu valor. A cada momento cruzamos com uma pessoa, sem nem ao menos saber uma parte da história desse indivíduo, sem saber por onde ele andou e pelo que passou. Esses pequenos mistérios pessoais são desvendados com o tempo, tempo que muitas vezes não chega a ser o suficiente, mas acredito que nunca será. Sempre existirá um sentimento estranho quando vemos uma pessoa que estava nesse nosso processo de descoberta dizer que a caça ao tesouro terá que ser interrompida. O sentimento pode ser comparado ao de um garimpeiro buscando por pedras preciosas. Sempre com o sentimento, ao fim do dia, que poderia ter garimpado mais, poderia ter descoberto mais pedras preciosas, poderia ter visto o brilho mais puro e forte. Pessoas partem muitas vezes entregando a ponta de um iceberg de riqueza. Um desperdício confesso, não por pura ganância, algumas pessoas buscam apenas o calor desse brilho, saber que está ali para quando quiser ser ofuscado por sua luz, se sentir quente e vivo sendo tocado pelo outro. Fazer com que a pessoa sinta que possa criar uma explosão quando começar a conhecer o seu próprio brilho também, esse brilho próprio que nem sempre permitimos ser mostrado. Isso talvez seja um pouco de egoísmo, já que por anos ele fica brilhando em um vácuo de escuridão que somente você mesmo tem acesso. Como se estivesse mergulhando no mais profundo oceano e encontrasse esse ponto de luz, trazendo um momento em que você e o seu brilho são o mundo, e ficassem boiando na imensidão apenas se encarando, sem dizer uma palavra. Sentindo o choque entre o frio e o calor existente se propagando para as extremidades mais remotas do seu sentir. Pessoas são complicadas, não se pode pedir para que elas estejam sempre ao seu lado. Pessoas muitas vezes são forçadas a abandonar tudo em busca do que é melhor para elas próprias. Pessoas são como estrelas, brilhando solitárias, sempre escondendo seus próprios mistérios, nunca deixando seu brilho ser visto de perto, sempre se fazendo mostrar, mas não se deixando conhecer, sempre nos esquentando com sua presença, e roubando uma parte do nosso calor quando precisam brilhar em outro lugar.

*Dedicado a Tati. Uma das mais preciosas jóias que já garimpei.

sábado, 30 de outubro de 2010

Cats.

Eram nada mais que dois gatos sorrateiros que apareceram justo na noite em que eu os esperava. Antes disso não sabia que eu estava chamando por eles, mas agora isso faz sentido. Vieram se equilibrando por um muro que contém inúmeras histórias, que já foi ao chão e se ergueu novamente, e sustentava aqueles dois gatos, tão frágeis e tão duros ao mesmo tempo. Pouco a pouco vieram chegando mais perto, um de cada vez, o maior na frente, reconhecendo onde estava pisando, onde podia pisar. Eu via tudo por detrás da janela, mal conseguia respirar, tinha medo de ser percebido e os afugentar. O pequeno veio chegando mais perto, de um branco no tom da neve mais pura, chegou a poucos centímetros do gato maior, uma mescla de branco com manchas negras. Talvez ele estivesse limpando o caminho para seu companheiro. Seu corpo não nega que existe uma parte sombria nele, uma parte em que o negro, em meio ao branco, se mostra ao mundo, sem medo. Sempre na frente, farejando, alerta com as orelhas em pé e fazendo movimentos precisos tanto com sua cabeça como com seu corpo. Ele se prepara e pula! Sente o leve toque da grama húmida pelo orvalho em suas pequenas patas. Ele se entrega para absorver o impacto da fria noite. Examina todo o território, sem fazer um ruído sequer, era como se o mundo perdesse seu volume, um vácuo impenetrável onde só se ouviam imagens. Em cima do muro, o gato branco observa tudo, olha ao redor, vê o mundo de outro ângulo, e após um tempo mergulha também na grama que nem ao menos se percebe verde. Ele sente o cheiro de vida ao redor. Não sei se vida seria a palavra certa. O que pode indicar vida pra uns, pode significar o oposto a outros. Independente de como isso se mostra para o gato branco, ele é atraído por aquilo, chega mais perto e toca suavemente a língua na superfície daquela vida morta. Tudo o que ele quer é o gosto. Se aproveitar levemente do tempo, tirar vantagem para a sua satisfação mais urgente. O gato mesclado anda ao redor, de um lado a outro, e senta-se mais adiante, sem pressa, sem calma. Mesmo parado ele está inquieto. Olha em todas as direções como se estivesse esperando algo acontecer a ele, ou ao gato pequeno. Esse, termina o banquete e começa a desfrutar do terreno. Provavelmente sente-se vivo, sente-se protegido. Como se todo o mal que o pudesse atingir estivesse automaticamente absorvido por seu companheiro. O qual permanece rígido em sua posição, esperando para fazer um próximo movimento. Infelizmente o escolhido é algo fora do meu campo de visão. Não posso fazer mais nada, fecho a cortina e volto a respirar lentamente. Percebo cada passo que eu penso em dar. E aqueles que foram dados por mim, para mim. No momento apenas torço para que os gatos continuem sempre nessa entrega mútua, de companhia e solidão, de proteção e vulnerabilidade, de vida e morte. Torço para que nunca sejam pegos, o trabalho deles é perfeito, suas patas mal tocam o chão, o som não existe, são apenas vultos que eu tive sorte de encontrar, são apenas vultos que eu sabia que iria encontrar.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Empty.

Um rosa purpuro que me esquenta apesar do frio que sinto em minha pele. Aos poucos ele também vai sumindo, como eu também vou. Aos poucos vou perdendo as sensações, de leve não sinto mais o calor a que estava acostumando. Não suporto a ideia de que ele ainda vai demorar a voltar, e enquanto isso, eu vou ficar ali desaparecendo aos poucos. Até quando não posso saber, meu processo de desmaterialização é lento e muitas vezes doloroso. Não suporto a ideia de estar ali parado, porém longe. Tudo acontece naquela janela. Aos poucos vou aparecendo novamente, mas em cima de onde costumo estar. Simples transferência onde eu poderia olhar o mundo inteiro. De longe talvez, não costumo olhar. Apenas olho para cima, sem focar em nada. O vazio me chama e me agrada. Eu poderia estar lá, o problema é que não sei trabalhar com a ideia de vazio. Muitas vezes sinto, mas é só. Ainda não sei como encarar o vazio. Não sei se ele deve ou se pode ser encarado. O vazio não tem limites e por isso penso que nunca poderei achar seu final para finalmente olhá-lo, mas e se achasse? O vazio provavelmente não satisfaria minhas perguntas apenas por uma simples lei física. Não consigo olhar pra baixo e nem pra cima, fecho os olhos. Eu sou o céu.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Whispers.

Em um tempo onde gradualmente os volumes foram alterados. Pouco se ouvia do seu próprio interior, sempre com palavras amarradas umas as outras que chegavam, sem anunciarem que estavam vindo. Em todos os lugares eram apenas palavras que lhe causavam um efeito irremediável, efeito que não mais era ouvido só por ele, mas por todos ao redor, e muitas vezes repetidos por eles. O tempo entrava em cena, levando anos e vozes cada vez mais juntos, ligados. Chegou ao ponto em que não mais foram necessárias as palavras, seu próprio interior falava cada vez menos, com uma voz cada vez mais baixa, logo após, tudo o que restava eram as palavras, que permaneceram juntas em sussurros. Sussurros que nunca se calavam, nunca iam embora, nunca deixavam um completo vácuo onde nada era ouvido. Os sussurros viraram parte de quem ele era, deixando a dúvida de como ele era antes deles existirem, como era quando o silêncio era alcançado a qualquer hora, quando sussurros não habitavam seus sonhos, quando ele se olhava no espelho e via nada além de si próprio, nada dito por vozes que ele nem ao menos conseguia localizar.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

About gold and past.

E enfim apenas um será o primeiro. Enquanto o segundo deve apenas se contentar com o pouco de esforço e sorte que lhe faltou para subir uma posição. E assim os dias caminham, cheios de primeiras e segundas posições. Fazemos-nos de primeiro sempre, é o que precisamos para dar escape ao sentimento de que devemos ser os melhores sempre. Hoje já percebo o quanto esperamos pelo primeiro lugar, e quando nos damos conta, ele já virou uma lembrança. Uma macia e dolorosa lembrança que nos pegamos pensando repetidas vezes. Lembranças não voltam, e me pergunto se o primeiro lugar vai se mostrar presente mais algumas vezes. Talvez sim. É a ideia de movimento que existe dentro de nós, sempre estamos buscando uma renovação, uma redenção, um estado que nos proporcione um sentimento melhor que o anterior, e talvez isso seja sim a renovação do primeiro lugar, a renovação do primeiro lugar em nós mesmos e em inúmeros outros que ainda não entraram na corrida. Por outro lado, encaramos a medalha que vem com a primeira posição. É o que mais queremos e nós sabemos disso. Por mais perto que ela esteja não nos permitimos alcançar. Temos medo do contato gelado com o ouro que apenas o primeiro lugar nos proporciona. O mesmo contato gelado que sentimos ao encontro da lembrança, uma memória fria que tentamos reanimar, trazer de volta a pulsão que a mantinha aquecida. Não nos damos conta que ela é quente apenas no momento em que está viva, no momento em que não precisamos fechar os olhos para que ela aconteça novamente, no momento em que a sentimos em nós, somos ela. Após isso é como se existisse uma morte fria, assustadoramente fria, fria o suficiente para nos avisar que ainda existe, nos dias mais quentes, nos momentos mais vivos, sem nos darmos conta de que o momento presente em segundos deixará apenas o frio em que ele se transformou, e nós tentamos mais uma vez doar um pouco do nosso próprio calor para reanimá-lo. E assim acontece, em uma cadeia fria de memórias.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A leveza e o peso.

Não passava de uma pena presa em um carro. O fim da tarde estava próximo, logo a noite se mostraria presente e a pena continuaria em sua prisão a céu aberto. Isso implica não só o calor da tarde, mas como o frio da madrugada. Desse ângulo eu posso ver o quanto ela queria estar livre, ir embora com a primeira brisa que se mostrasse forte o bastante para levar o peso de uma pena nas costas. O ar está parado, as árvores não se mexem, a pena por sua vez, resiste em um vento fantasma com a esperança de ser libertada. Pode-se dizer que está acontecendo uma contagem regressiva, o sol vai roubando aos poucos o tempo que ainda resta para a luz estar presente, é a única chance que a pena acredita. Quando a noite chegar, ela vai ficar invisível a inúmeros olhos, e não se sabe em baixo do que ela estará amanhã. Essa pena quer ser carregada pela vida, e esse é o seu único medo no momento.

sábado, 18 de setembro de 2010

Echoes.

Há uns dias, as tardes seriam tudo, menos vazias. Isso se tornou apenas um passado onde não sabemos se foi sonho ou uma realidade nebulosa. O corredor está vazio agora, na cabeça ainda ecoam os passos duplos em direção ao interior daquele sentimento contraditório, a memória se mostra precisa para aqueles que não sabem deixar as coisas seguirem seus próprios caminhos. Uma prisão mental onde pessoas ficam vagando, sendo escravas de atos e dias que deveriam ser livres, deveriam estar livres. Mais uma vez a liberdade pedindo para existir, para ser gerada, finalmente poder sair de sua crisálida e erguer-se entre aqueles que ainda acreditam nela. Essas pessoas se conformam não apenas com a idéia de que os atos escolhidos terão efeito em sua vida daquele ponto em diante, como aprendem a viver com eles, com os acertos e erros. A idéia de liberdade não é um erro, cada um tem sua própria concepção, e mais uma vez nos mostramos não só inaptos a aceitar a idéia alheia, mas ainda: desejamos que o outro compartilhe de nossa idéia. Já se dizia que o silêncio não existe sem o barulho constante do dia a dia, e nesse momento, silêncio vazio é tudo que me resta.

sábado, 11 de setembro de 2010

Ambiguidade.

Dois mundos. Duas vidas. Dois eu’s que se convergem ao encontro em momentos em que eu precisava ser apenas um. Enquanto penso tranquilo no ontem, o hoje se mostra cada vez mais propício a um ato impulsivo, que mesmo eu ainda não sabendo, fará do amanhã apenas mais um novelo a desenrolar. Alguns poucos dias se arrastaram devagar, vendo do ponto onde eu me encontro, eles agora se parecem com um borrão, uma massa disforme onde tudo se encontra fora do lugar, como se uma ventania tivesse passado e desarrumado todas as prateleiras. Meus livros estão espalhados pelo chão, a ordem foi quebrada. Preciso juntar forças para tirar o pó das páginas amassadas e começar a organizar livro por livro, dia por dia, pessoa por pessoa.