sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sun goes down.

Após um dia cansativo com muitos barulhos e gritos, ele se volta para o horizonte. Observa o dia ir sumindo calmamente, como a sua própria euforia. Ele estava ficando escuro, sem luz. O Sol não estava mais visível, apenas viam-se raios alaranjados, como uma última tentativa de o sol não morrer, um último suspiro. Não se sabe dizer o que houve nesse dia, nem mesmo o sol poderia esclarecer. Ele percebeu por fim que isso era de certo modo simples de explicar: era uma raiva internalizada. Não lhe fazia mal, apenas fazia perguntas. Ele não queria responder, não tinha forças para qualquer resposta, estava ficando escuro. Escuro sempre é bem vindo. Como ele gosta do escuro, ainda sente medo, mas gosta com força. Acredito que era um ar denso, sem muita pureza, e isso o irritava, tudo o que faz é fechar a janela. Observa-se sozinho, em uma caixa escura com um filete de luz se diluindo pouco a pouco. Fica parado, não existe pressa. Olha sua sombra quando em comunhão com o escuro e sente-se vivo, e isso o incomoda de uma forma aguda. Em outras pessoas, a sombra não chegaria a tal ponto de comunhão, seria interrompida antes de qualquer coisa. Ele não quer ser como as outras pessoas, não quer cortar o efeito da comunhão das sombras. Ele é ele, e isso o tranqüiliza.

domingo, 13 de junho de 2010

Glass.

Percebo que isto está se tornando frequente. Sinto a mesma coisa cada semana. Será isso que chamam de viver e abandonar uma vida? Não tenho certeza do que achar, nesses momentos apenas sinto, sinto com força. Percebo um aceno do outro lado do vidro. É um aceno para ninguém, de uma pessoa que achamos ser ninguém. Independente do nosso próprio conceito, o aceno foi feito e posso garantir que teve efeito sobre mim. O aceno não foi pra mim, aos olhos dele eu também sou ninguém. Isso me assusta como deve assustar cada ser humano. Não gostamos de ser ninguém, não permitimos isso. Precisamos da atenção, essa que eu recebo toda semana e que me faz falta quando percebo que chegou a hora de acenar. Agora eu entendo, esse sentimento é a atenção. Preciso dela para sobreviver, preciso dá-la para que outros sobrevivam. Desse lado do vidro está meio deserto, pelo menos mais deserto que de costume. Várias atenções juntas, duas me chamam. Preciso delas. A outra eu apenas sinto. Sinto o cheiro, e nesse momento isto basta.

Espelhos.

Como posso ver o tempo passando rápido, bem em frente aos meus olhos, nos espelhos em que encaro no decorrer dos dias. Espelhos de dentro, aqueles que só nós vemos o reflexo. Talvez nós mesmos criemos os reflexos, não posso dizer com certeza. O espelho muda, todos eles. Acredito em várias pessoas em uma só. Cada interação vai receber uma pessoa diferente. Sendo assim, vejo o quanto de espelhos cada pessoa deve ter. Será o suficiente? Toda essa complexidade me faz refletir sobre o tempo, talvez não só sobre o tempo, mas como ponto de partida. Mudamos. Sim. Isso é o que nós somos, mudanças. Pode ser que não percebamos isso em nós mesmos. Somos capazes de perceber nos outros, sempre nos outros. Várias versões de uma só pessoa, distribuídas conforme as afinidades com a outra. Não somos um só, de forma profunda. Tudo o que vemos é a superfície, e nela, sim, somos apenas um. E somos todos os outros que se alojam em nossa profundidade, mesmo não nos dando conta. Eles existem.