Meus sentidos não conseguem se auto desligarem. Sinto um zumbido em minha cabeça que insiste em denunciar um funcionamento não autorizado, como se precisasse mostrar que tudo está sob controle, em não ter o controle. As tábuas rangem assustadoramente em um mar tão silencioso quanto inquieto. Os barulhos naturais são ouvidos apenas de longe, mas perto o suficiente para que sua existência seja comprovada. Aqui, o silêncio é apenas uma mera fachada para esconder tudo o que insiste em permanecer acordado. Tal fachada coloca em duvida a existência de tal corpo, já que nesse curto período de tempo, tudo o que o mundo pede é que não exista, que vire apenas uma lembrança vaga que será despertada em algumas horas. Porem, o corpo se nega em ser esquecido, por algum motivo ainda desconhecido, e permanece em silêncio para não ser descoberto, onde tudo o que pode fazer é observar os outros corpos em semelhante esquecimento, mas a diferença está quando esses corpos são percebidos, mesmo não se dando conta disso. Onde suas defesas estão ausentes por imaginarem que todo corpo compartilhará do mesmo estado. Os ruídos começam a aparecer lentamente, assim como o azul começa a se diluir, dando espaço a um azul cada vez menos denso, menos morto. As defesas começam a voltar a seus lugares, como que evocadas pelo barulho exterior, em uma espécie de aviso pré-estabelecido, mas esse corpo está em desordem com o seu redor. Prefere baixar a guarda quando todos estão armados novamente, como que implorasse para ser pego desprevenido, precisando então lutar para a sua própria sobrevivência evocando seus instintos. O barulho está em um volume incomodo, a luz começa e entrar pelos vãos lentamente. Não pede licença, entra e só. Então o corpo se prepara procurando um posição confortável onde se sinta protegido, já que está na hora de perder a consciência, desejando que a recobre na mesma posição em algumas horas depois, intocado.
Order and chaos
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Insônia.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Looping.
A cabeça estava imóvel e o seu campo de visão era restrito. Tentava acordar, lentamente, onde ia religando seus músculos e sentidos aos poucos, até que enfim levantou. A cabeça estava imóvel e o seu campo de visão era restrito. Sentiu um peso sobre seu corpo, tentou fazer movimentos por perceber que aquele peso não deveria estar ali, um peso que vem sendo temido de forma crescente. Gritou mas não ouviu o som que saia de sua boca. A cabeça estava imóvel e o seu campo de visão era restrito. Tudo estava parecendo familiar demais, como um déjà vu instantâneo, tentou virar para o outro lado, já que ainda não queria acordar e não conseguiu mexer seu corpo. Estava preso por amarras invisíveis que não permitiam que os movimentos fossem feitos, o que aumentou o desespero. A cabeça estava imóvel e o campo de visão era restrito. Dessa vez tudo já começou buscando acabar. Tentou manter a calma julgando ser o melhor, mas não foi. Tudo o que queria era que aquilo parasse, que aquela cena o deixasse livre, no controle de si próprio. Mas ainda preferiu manter a calma. Queria perceber aquela sensação em todos os seus desdobramentos. Percebeu então que não era a primeira vez que esse evento tinha ocorrido, mas estava cansando de realizá-lo. Sentia seus membros amortecidos, mas tão vivos. Se questionou que independente do caso, ele voltava a acontecer e isso dava dicas de que teriam uma razão, mesmo que não fosse percebida próxima ao abajur, sendo compostas de uma tinta onde brilhava apenas no escuro, mas já não tinham forças o suficiente para serem entendidas, apenas percebidas, e às vezes a percepção foge à lógica, ela apenas é. Tudo caiu então na ação, ela existia, mesmo prometendo que era a sua última vez, seu ato final, mas no fim se resumia a um pôr-do-sol que nunca aconteceu a seus olhos. Percebeu que a tênue linha entre os dois mundos onde esse loop acontecia é que em um poderia voar sem ser percebido, no outro precisava pedir licença.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Link.
Era nada mais que uma bola de um alaranjado vivo se desprendendo de um ponto fixo. Esse desprendimento levava a um longo caminho até o chão, caminho que foi percorrido lentamente, e uma vez encontrado o chão, com o impacto, a bola se desfez em inúmeros pedaços que correram pelo chão iluminando os cantos até então escondidos, para então se apagarem deixando apenas um cheiro que não fazia parte daquele cotidiano. Isso remeteu a algo muito maior, que até então não era percebido. Toda a força que todo o processo pede para que seja feito acaba passando despercebido com apenas um pensamento de comodidade ao fim da tarde. Todo o processo não era bem entendido até aquele momento, onde houve uma faísca mostrando os contornos ocultos pela sombra diária. Tudo o que restou foi uma agitação estranha, expressada em irritação, que agora também dói e volta-se em uma agitação sem meio para ser expressa. Em uma cadeia de expressões sem um meio onde possam ganhar vida tudo fica então no não dito, no não percebido, no não visto, o que no fim, irá gerar um desconforto até mesmo no respirar, como se não merecesse tal matéria necessária para tentar buscar meios de expressar. Mais uma vez em uma cadeia, onde os fatos estão aparentemente ligados, mas não conseguimos fazer a ligação, ficando um espaço pequeno, mas com uma grande capacidade alojar um rio onde tudo o que queremos esquecer passe rapidamente, gerando dores indecifráveis na superfície. Talvez essas dores sejam o motor que todo mundo precisa para que busca acabar com as mesmas, gerando mais uma vez uma cadeia.
terça-feira, 19 de julho de 2011
Malas.
Eram três malas, com alguns furos para a entrada, e consequentemente, saída de ar. Todas as três possuíam rodas e eram facilmente encaixadas em trilhos, e a partir disso, apenas aguardavam o impulso inicial onde não mais seria possível parar. Além disso, as malas possuíam uma ordem temporal dissonante à realidade. Elas existiam no tempo delas, e não se preocupavam com os ponteiros que nos lembram quanto tempo ainda falta para que algo aconteça. É possível, que se essas malas fossem abertas, o seu conteúdo ficasse tão disperso que fosse impossível separá-los novamente e devolver à ordem inicial. Mas é justamente nessa parte que os furos na couraça das malas são prejudiciais. O seu conteúdo, que não é algo físico e palpável, vai escapando aos poucos, se dissipando no ar, se escondendo, pedindo liberdade. Ao mesmo tempo que esse processo é ruim, ele não o é, já que muitas vezes houve a pressão do lado de dentro das malas, e a única condição para que parassem com aquela dor incômoda, mas suportável, foi que pequenos furos fossem abertos. É assim que entrou a ambivalência entre o bom e o ruim, demonstrando um sacrifício necessário, onde é preciso abrir mão de algo para ter outro algo. Não questiono se isso é justo, até agora tem se mostrado o suficiente. O medo é quando isso deixar de o ser. Por mais que todas as malas estejam sempre juntas, lado a lado, elas também estão separadas, e apenas uma percorre o trilho. É possível sentir a presença das outras duas, mas sempre uma presença fina, presença que se mostra na forma da falta, e quando essa falta se tornar grande demais para ser controlada, os furos começarão, automaticamente, a ficar cada vez maiores, e consequentemente, cada vez mais o seu conteúdo irá se misturar. No fundo, eu sempre quis abrir as malas, e nunca tive a coragem necessária para lembrar onde estavam as chaves. Isso pouparia o esforço de fazer com que tudo permaneça no seu devido lugar, onde sempre existiu um desejo para que o caos fosse feito, e com ele a necessidade de encontrar um conteúdo em específico em meio à um conteúdo maior. Agora percebo que por mais que o conteúdo interior seja o seu próprio criador, os furos serão a sua fuga, a sua fuga necessária.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
A dança do tempo.
E nesse calendário com tantos e tantos dias, me percebo agora perdido no tempo. Não no tempo cronológico, mas no tempo feito exatamente para mim. Vejo como esse tempo passa mais rápido que os dias marcados no calendário. É como se as horas tivessem um valor diferente para mim e eu tivesse que entender isso, saber o que fazer com isso. O motivo dessa perda no tempo, é justamente por não saber como levar esse descontrole de horas, que no fundo sempre me gerou um controle estranho a consciência. Não quero dizer que tudo é automático, porque começo a pensar que o automático está preenchido por intencionalidade, então seria um automático já previsto, mesmo que eu não perceba isso. Acabo por perceber que, em épocas, grande parte do meu dia é feito em cima de fatos que me controlam e eu apenas respondo a eles, reajo, como um reflexo que eu não conseguisse segurar, mas sabia que teria que exercer. Então, vejo que o tempo foge de minhas mãos, não que em algum momento eu o tenha retido, já percebi que não é possível fazer isso, e a não aceitação desse fato só trará mais perda de controle, como em uma cadeia de eventos descontrolados. Aceitar essa falta de controle é, sobretudo, aceitar a pequena parte de controle que é possível ter: o controle de perder o controle. Não saber até que ponto as respostas estão sendo dadas fielmente, ou se estão sendo reflexos que nem ao menos se pronunciaram antes. Reflexos que se contradizem com os discursos e se fecham em um nó que depois de feito, nem o mais afiado dente é capaz de desfazer. Agora percebo o quão distante está o controle do tempo. E tempo também pode ser entendido por instante. Na verdade, tempo pode ser entendido por toda e qualquer manifestação. É como se fosse um pagamento que as ações precisam realizar para poderem existir. Elas pagam com o próprio tempo, pagam com a própria existência, virando depois meras lembranças, e talvez, até mesmo arrependimentos. Arrependimento é o juro que o tempo cobra por tentarmos ter controle, um juro que pressiona cada parte do corpo fazendo com que mesmo não os vendo, continuamos sentido, e tentando nos livrar deles. O que não é possível, já que essa é como uma daquelas marcas que causamos a nós mesmos diariamente. Desde pequenas queimaduras, até a cortes profundos. Sabemos que essas marcas ficarão atenuadas, mas nunca deixarão de fazer parte de nós, da nossa pele. E isso é o tempo tentando ser gentil, mostrando que com o decorrer dele mesmo, as marcas ficarão suavizadas, mas nunca em nossa história serão extintas, sendo então como um aviso. Nunca voltaremos a nossa pele inicial, onde as únicas marcas são aquelas que o tempo cobra por nos dar a vida. E assim, segue essa grande dança, onde apenas escolhemos os sapatos que preferimos calçar, e nada mais.