quinta-feira, 28 de abril de 2011

Portas.

No processo de construção de uma porta ela nunca já nasce fechada, muito menos trancada. O processo que fará com que ela se feche, será lento e gradual, é preciso que alguém ensine isso para ela, ela não pensa, ela percebe, sente. Cada dia ela vai aprendendo como deve se fechar, como desempenha um papel melhor quando está fechada, como uma autodefesa. Não quero falar que quando está aberta, a porta não tem o seu valor. É justo pelo contrário, como existiria um fluxo, uma passagem, uma transferência se a porta estivesse fechada? A questão é quando ela deve ser aberta, por qual motivo o foi, e se deverá continuar assim. Em um ponto mais agudo, temos a chave, onde não queremos que a porta se abra quando bem entender. Talvez essa seja a mais drástica defesa que temos: impedir que o fluxo ocorra, nos privarmos para que a transferência não seja compartilhada. Nesse aspecto, cada um possui a sua própria chave, mas é algo um pouco mais complexo, porque não temos o controle de quando essa porta deve ser trancada e destrancada. Ela apenas o é, o que gera uma desarmonia em todas as dobradiças, como se uma corrente de ar fosse ativada e durante um período passasse através dessa porta o tempo todo, então por mais que a porta fosse fechada, ela não permaneceria fechada. Seria aberta sem pedir licença, com suas dobradiças gritando de dor pelo esforço inútil. Acredito que seja tempo de buscar o controle da chave, não deixar que ela tome o comando. A maçaneta está lisa, como tomada por um feitiço onde nenhuma mão consiga a carregar. A porta está pesada, pesada de tanto esforço por tentar se manter fechada, sobra apenas o cansaço, onde começa a se tornar cada vez mais aparente para os corredores. Até a porta ser retrancada novamente, será um processo longo e doloroso, mas que irá lembrar o quanto esse fluxo nos mostra como estamos vivos, como nos sentimos vivos, como gostaríamos de nos sentir quando a porta não precisar mais de chave alguma.

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