sexta-feira, 11 de março de 2011

Lembranças.

Eram pouco mais de dez horas da manhã. Ele percebeu os sentidos voltarem ao corpo lentamente logo após a consciência ganhar vida novamente. Ficou deitado, imóvel, acolhendo aquela sensação como se nunca a tivesse sentido antes, os olhos permaneceram fechados, deixou que os outros sentidos fizessem o trabalho. Percebeu um barulho do outro lado da parede. Era chuva, tranquila e fina, mas fria, e ele não sabia perceber essa ligação metafísica, mas era como se seu corpo sentisse finos pingos gélidos uma vez ou outra. Chegou a pensar que talvez foi isso que interrompeu seu sono, mas também percebeu que fora uma das melhores maneiras para se acordar naquele dia. Sentiu um vento frio, quase imperceptível, apenas o necessário para se encolher e manter o calor que havia produzido e conservado durante a noite. Abriu os olhos. As cores do quarto estavam leves, por assim dizer. A cama estava ficando desconfortável, ou talvez ele era quem a estava rejeitando. A porta do quarto foi aberta. Tudo o que existia do outro lado era o silêncio. Silêncio esse que trouxe de volta memórias que ele julgava ter esquecido, julgava não ser mais necessário lembrar. E isso foi um engano que doeu, doeu como quando nos sentimos culpados por termos feito algo sem intenção, mas que sabemos não ser o certo. E essa dor estava por todos os lados. Cada objeto com sua lembrança. As paredes sussurravam entre si, como que comentando aquela falha grave. Talvez o incômodo tenha surgido para pedir que ele não vá muito longe, ou talvez foi justamente o oposto, para que mesmo quando a distância estiver incontável, às lembranças fiquem com ele, façam parte dele. Aquela sensação logo foi ficando cada vez mais suave e lenta, mas ele também aceitou isso, parecia que não era dia de fazer perguntas, algo que ele pensou não ser capaz. Lembrou-se do sonho que tivera há pouco, ou melhor, dos sonhos. Um após o outro, pessoas trocando de forma, passando a ser outra, com o significado da anterior, terminando em um abraço, lento e necessário. No fim, ele aceitou que as lembranças entrassem novamente, sem bater, só entrassem, que cada uma ocupasse o lugar que melhor lhe agradasse, se instalando ali, a única coisa que pediu foi para que não doessem, já que, a tênue linha entre a dor e a as lembranças está em como elas resolvem despertar.

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